quarta-feira, 7 de setembro de 2011

OSWALDO BEGIATO:

OSWALDO BEGIATO:
O PEQUENO GRANDE POETA

Oswaldo Antônio Begiato, paulista, nascido em Mombuca e criado em Jundiaí. Formou-se em Direito, mas jamais advogou. No texto abaixo, ele próprio, poeticamente, faz sua própria apresentação.


“SEM SOMBRAS
Ao meio dia
De um domingo
Prenhe de sol
E enamorado de outubro
Rompi espontâneo
Como um botão de rosa fêmea
Que nasce sem ser esperado.”

Nasci, sob o signo de escorpião,
em 26 de outubro do ano de 1.953,
na cidade de Mombuca,
um pequeno encanto
no canto interior
do Estado de São Paulo.

Menor que a cidade só eu mesmo.
Ainda pequeno vim para Jundiaí,
também São Paulo, Terra da Uva,
da qual experimentei o sabor do fruto
e jamais a deixei.

Nela me fiz advogado sem banca,
aposentado sem queixas
e onde perambulo até hoje,
buscando, perdidas nas sarjetas,
as palavras que me usam
para escrever poesias as quais publico aqui
e na internet de um modo geral,
além de ter participado com elas
de algumas Antologias pelo Brasil.

Em 1988, publiquei um livro de poesias,
sem muita importância e feito artesanalmente
em um mimiógrafo antigo,
chamado "O Menino".



Os espaços de Oswaldo Begiato:

BLOG
www.oabegiato-poesias.blogspot.com

POETAS DEL MUNDO
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=5789

RECANTO DAS LETRAS
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/oabegiato

CAMPO DE ORQUÍDEAS
http://www.campodeorquideas.com.br/2/

REVISTA DE ANTÔNIO POETA
http://oswaldoantoniobegiato.blogspot.com

JORNAL DA CIDADE ONLINE
http://www.jornaldacidadeonline.com.br/leitura_artigo.aspx?art=2011



PASSARINHO

Eu sou livrinho.
Não um livro
pequeno,
mas um pequenino
menino:
- Livre.

Oswaldo Antônio Begiato


ORAÇÃO A MIM MESMO

Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais. Falar menos. Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê
a admiração que eles me têm
e não a inveja que prepotentemente penso que seja.
Escutar com meus ouvidos atentos
e minha boca estática,
as palavras que se fazem gestos
e os gestos que se fazem palavras
Permitir sempre
escutar aquilo que eu não tenho
me permitido escutar.
Saber realizar
os sonhos que nascem em mim
e por mim
e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver
os sonhos possíveis
e os impossíveis;
aqueles que morrem
e ressuscitam
a cada novo fruto,
a cada nova flor,
a cada novo calor,
a cada nova geada,
a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar,
sonhar o mar,
sonhar o amar,
sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,
dos movimentos,
do impossível,
da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras
pelo toque,
pelo sentir,
pelo compreender,
pelo segredo das coisas mais raras,
pela oração mental
(aquela que a alma cria e
que só ela, alma, ouve
e só ela, alma, responde).
Que eu saiba dimensionar o calor,
experimentar a forma,
vislumbrar as curvas,
desenhar as retas,
e aprender o sabor da exuberância
que se mostra
nas pequenas manifestações
da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem
que entra pelos meus olhos
fazendo-me parte suprema da natureza,
criando-me
e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza
e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão,
que em vão não sejam
minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos,
mas saiba recuperar meus destinos
com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada,
principalmente de mim mesmo:
- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça
toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno
dentro de minha própria turbulência,
sábio dentro de meus limites
pequenos e inexatos,
humilde diante de minhas grandezas
tolas e ingênuas
(que eu me mostre o quanto são pequenas
minhas grandezas
e o quanto é valiosa a minha pequenez).
Que eu me permita ser mãe,
ser pai,
e, se for preciso,
ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que sei
e aprender o muito que não sei,
traduzir o que os mestres ensinaram
e compreender a alegria
com que os simples traduzem suas experiências;
respeitar incondicionalmente
o ser;
o ser por si só,
por mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar a solidão de quem chegou,
render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar
e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado,
fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebo
gentilezas.
Que
eu jamais fique só,
mesmo quando
eu me queira só.
Amém.

Oswaldo Antônio Begiato


ADORMENTAR

Porque a pele é fina
e o osso fraco
qualquer batida dói
e incha e incha...

Porque a alma é leve
e a mente fraca
qualquer culpa dói
e pesa e pesa...

O corpo imenso
não cabe na cama
miúda de solteiro.
Volta e meia
ele escapa dela
durante a noite
levando junto a alma.

Não sei para onde vão.
Só sei que quando voltam
a alma vem
com um jeito diferente,
assim como quem acabou
de ser desvirginada.
Aí ficam juntos os dois,
alma e corpo,
num encontro só
me deixando abandonado.

Essa é minha tristeza sem fim
e só eu sei dela.

Viver não é tarefa fácil.

Quando eu morrer
quero pois que digam:
- Ele já foi tarde!

Oswaldo Antônio Begiato


QUE ESPERANÇA!

Todo dia pela manhã,
arcada pelos pedágios do tempo,
Dona Alzira pega sua vassoura
e silenciosamente põe-se a varrer.
Varre o quintal,
varre a calçada,
varre a sarjeta,
varre a praça...
como quem varre os sonhos ruins que teve à noite.

Depois entra em casa, com passos de relógio,
e ninguém mais vê Dona Alzira.

Dizem que fica arquitetando sonhos bons
na esperança de sonhá-los à noite.

Oswaldo Antônio Begiato


FLOR BALDIA

Não sou flor
que se cheire
Nem flor
que se coma.

Não sou flor
que se dá
Nem flor
que se compre.

Não sou flor,
Sou erva daninha.

Tenham cuidado comigo!

Oswaldo Antônio Begiato


VARANDA

Na varanda da casa que não tenho,
coloco a cabeça no mundo da lua
mas fico com os pés no chão firme.
No chão, teço caminhos e sei que jamais os palmilharei.

Na varanda da casa que não tenho,
rezo o terço de cada dia,
faço a procissão passar com os santos em seus andores.
Caio de joelhos diante de um Deus que não é meu
nem eu sou Dele.

Na varanda da casa que não tenho,
leio o livro do poeta decrépito
cheio de versos moribundos.
Aprendo novas rimas,
nas entrelinhas do pensamento.
Com pena nas mãos escrevo com letras mortas
a poesia que não me ressuscitará.

Na varanda da casa que não tenho,
fico pensando no amor verdadeiro
e de viola em viola componho canções novas.
Os pássaros gostam de ouvir mas meu amor, não.

Meu amor; aquele que não veio nem nunca virá.

Oswaldo Antônio Begiato


QUELHA

As avenidas largas agora me cortam a essência.
Trazem concreto, violência e impersonalidade
E a velocidade do tempo me esgota os poros.
Meus olhos secos sangram ao sol e ao vento.

Quero os caminhos apertados e pequenos
Que me enchiam os olhos de simplicidade
E a boca com o sereno gosto da meninice.
Eles me ninavam com promessas de futuro.

Oxalá, pudesse eu ainda ser acalentado!

Oswaldo Antônio Begiato


OSSOS E SANGUE

Para que servem
os sonhos que sempre tive,
se o tempo passou
e me petrificou?

Onde posso
encontrar carne e ossos,
se tudo agora
são pedras?

Como verter
das veias, sangue,
e revelar o pulsar do coração
se pertenço ao mundo mineral?

Como amar
se minhas perdas
fizeram de meus sentimentos
uma rua ladrilhada?

Oswaldo Antônio Begiato


MAIS ALGUNS HAICAIS


AO CAIR DA TARDE

Corre corruíra;
A tarde espera teu canto.
Vem me fazer triste.

EBRIEDADE

Conhaque divino
Flamba o coração doído
Até eu morrer de amor.

HIROKO

Para onde vais mulher?
Colher estrelas no céu
Ou nova luz parir?

LAÇOS

Na mesa a toalha.
Sobre a toalha a comida.
Amizade forte.

SERENIDADE

Nascemos brigões.
Quem tem rugas, não tem rusgas;
O tempo serena.

SIMPLICIDADE

Retalhos de manga,
Fiapos na camisa velha.
Vida de menino.

SUGESTÃO

A gota de orvalho,
O guri sem agasalho...
A foto; retalho.

VIVA

Fogos de artifício;
Ano Novo, vida velha!
Eis nossa arte e ofício.

Oswaldo Antônio Begiato


DESMAZELO

Meu doce amor, que essa vá lhe achar com saúde.
Tenho sofrido o suplício de sua ausência,
Sentido uma saudade dura e incontrolável
Rasgando as águas turvas de meu coração.

Navalha impiedosa incisa sem deixar sangrar;
Dói feito a penetração pungente da espada.
Do beijo além do cheiro formoso da aurora
Sinto falta do despertar florido e fresco

E do adormecer nos braços do entardecer.
Do corpo retenho a ardência e o forte perfume
Da ambrosia e do néctar que, distraída, trouxeste

Por conta de um descuido dos deuses do Olimpo.
Meu doce amor vem, nem que seja por desleixo,
Cuidar das dobras bobas de meus sentimentos.

Oswaldo Antônio Begiato


ARMADILHAS E FRONTEIRAS

Passei por tantas armadilhas,
Cruzei muitas fronteiras
Durante o tempo em que renascia
Nessa minha vida de errante.

Bonecos, somos todos modelados com o mesmo barro,
Pelas mesmas mãos.

De que me serviu dizer sempre a verdade?
Venci na vida?
Venci nada. Indigente envelheci.
E não é o tempo que envelhece,
É o abandono,
A falta de perdão.

(Aprendi que o dinheiro compra todos os perdões,
O resto é léria.)

E eu que sou inhenho incorrigível
Fui morrendo de tristeza e de vergonha.

Se eu soubesse que iriam espalhar pela internet
A foto descolorida de um escravo morto
Com os cabelos presos e a pele tenra
Eu teria colocado uma camisa mais bonita,
Dessas que obrigam o sol a nascer
Seis horas antes do funeral.

Talvez eu fosse festejado.

Oswaldo Antônio Begiato


E AGORA?

jogam uma veste
negra
confusa
sobre os paralelepípedos
da rua
e a lua
desesperadamente
lança sobre tudo
uma luz prateada...
...em vão

já não são mais
paralelepípedos
já não são mais
histórias petrificadas
apenas uma manta
uma manta negra
asfáltica
onde
não faz morada
nem a lua
nem a rua
nem luzes
nem caminhos
e a história...
...não se revela.

Oswaldo Antônio Begiato


MEDO

Há vidas
e há vidas
havidas
ávidas.

Não se chegue
muito perto;
se chegar
fique em silêncio.

Posso apenas
prender firmemente
meus olhos desordenados
aos seus olhos
(há neles um conforto,
um nível
e uma infinitude
só vistos
nos oceanos
serenos).

Nada mais posso.
Se eu for além,
ou vier do além
corro o risco de lhe invadir
rompendo seus vínculos.

É que o medo que me cerca
vem de dentro de mim.

Oswaldo Antônio Begiato